quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A senhora

Os dias estão cada vez mais lindos. Sou de sol, mar, calor. Então para mim dia lindo é dia ensolarado. Isso se deve talvez as minhas raízes, sou latina, sou nordestina. Aqui só existem duas estações, a de chuvas e a de sol. Calor é o ano inteiro.

Isso não significa que não gosto de chuva, mas prefiro quando estou em casa, onde posso curtir uma rede na companhia de um livro ou para aquela sesta.

A intensidade das cores em dias de sol é maravilhosa, os reflexos na água são lindos, dignos de um quadro. Desço do outro lado da ponte só para desfrutar dessa paisagem ao atravessar-la em direção ao trabalho. São garças pescando seus alimentos, são barquinhos com pescadores lançando redes ou apanhando mexilhões. Dependendo do posicionamento do sol é encantador a cena. Poderia passar horas admirando. E hoje mesmo o rio estava de uma coloração verde e as pequenas ondulações refletiam um brilho dourado. So pra constar são 49 pontes, não é por acaso conhecida como Veneza Brasileira.

Sim, estou falando do Recife. Com o "e" bem aberto. E como diria Gilberto Freyre, O Recife, sim! Recife, não! Sempre acompanhado do artigo "o".

Lembro de um dia ter conhecido uma senhora bem distinta ao sair do shopping, eu estava com uns amigos e logo lhe oferecemos uma carona. Ela morava no edifício onde esta localizado o cinema São Luiz, um dos mais antigos e luxuosos do Brasil. Ela nos convidou a subir e tomar um café. A senhora era bem educada e usava umas expressões bem antigas.

Ficamos encantados com ela. Mostrou-nos sua varanda e a visão da cidade por esse ângulo é de tirar o fôlego. Ela nos contou sobre quando era moça, como as pessoas se vestiam bem para ir ao centro da cidade. Este centro sempre muito agitado, com comercio, mercadores, charretes, ela nos mostrou algumas fotos e praticamente fui transportada para aquela época. Havia bondes, mas ela só podia ir acompanhada de um adulto. Nos falou também que descia para sentar a beira do rio no fim da tarde onde ficava paquerando os moçoilos de boa família.

Foi daquela varanda que ela viu o Zeppelin corta os céus do Recife. Foi decretado ate feriado municipal nesse dia. E assim a tarde decorreu, indo há um tempo onde a vida passava mais devagar. Onde poderíamos apreciar a cidade. Já nem lembro mais o nome dessa senhora e muito menos se ainda vive. Mais sempre guardarei a memória de anos vivida em horas.