Hoje começou a primavera, minha estação preferida. O dia começou com uma pequena chuva, pensei que seria assim o dia todo. Talvez uma maneira de dizer a todos que ela chegou. Lembrar que o inverno passou. Não que eu não goste dos dias chuvosos, mas prefiro o suor escorrendo no rosto do que os pes encharcados e com frio. Mas o dia permanece lindo, a chuvinha foi embora e ainda fui agraciada com um rapaz tocando violino divinamente no onibus. Um belo começo de primavera.
Pra finalizar deixo um poema de Elisa Lucinda. Não tem muito a ver com a primavera, mas hoje lembrei dele.
Olha que coisa mais linda!
Cheguei aos dias de setembro. Lindos! Cada um a seu modo dentro do verde da palavra setembro. O de hoje é cinza, nem chegara a meia idade do meio dia e já é mal falado, coitado!
“Que dia esquisito, dia feio!” disse-me a amarga senhora da padaria.
“Nossa, mas que dia horrível é este, mãe de deus?” Indagava aos céus Dona Dirce da drogaria.
“Que dia horroroso, o tempo está péssimo”, navalhou com dois definitivos adjetivos o Souza da lavanderia.
Eu não disse nada mas me deu pena do dia e seu tempo doador de suas aparentes características. Tão novinho e já maltratado assim por todos! Um menino ainda, impossível que tão cedo seja merecedor destes deselogios, destas palavras calafrios, desta sequência estilete de tamanha humilhação.
Qual o problema deste dia? Se for chuvoso não sou de açúcar e não me derreteria. É um dia nítido embora longe das espécies de claridades de um dia azul. Como vou explicar? Ora, é um dia assim, próprio, com sua funções no roteiro de cenas do enredo celeste. É este seu estado, não há como ser outro.
Ó pobre incompreendido dia nublado, com sua prateada luz recebendo a indiferença de muitos. Ele é o judeu, o índio, o coreano, o negão, o viado que desfila na passarela da discriminação dos olhos humanos sobre a natureza! É o patinho feio, e visto como vilão que ainda perde para um dia ensolarado, louro, alto, galã, príncipe e coisa e tal.
É certo que um dia mais frio, ventoso forte e chuvoso induz-nos ao recolhimento. Que posso fazer se também é bom olhar pra dentro, escolher musica, replantar, mudar o disco, a cor, os lençóis e os papéis da casa? Podemos reparar na graça externa dos dias assim.
São românticos também: preto e branco, papel carta, televisão antiga, fotografia, filme noir, fog, névoa, bruma, sépia, magia, ilusão. Escrevo num dia prateado de setembro verde musgo assim. Com suas variações sofisticadas de cinzas em chumbo, grafite e infinitos prateares. Neste dia-nave navego. Venho do passado, pouso nele presente e para o futuro vou indo .É para ele ouvir que grito bem alto e rindo: mas que mais dia lindo!
Hoje também é o dia do sorvete. Brindemos com essa maravilha a chegada da estação mas linda.
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